" Há um anúncio que diz que voltaremos a ver golfinhos no Tejo como se de um sonho se tratasse. Já esteve mais longe da realidade. Ainda há pouco tempo se avistaram alguns junto ao Bugio, indicando que o rio está em fase de limpeza.
Com uma década de atraso, as obras estão a ser feitas ao longo das duas margens do estuário. Novas estações de tratamento de águas residuais, condutas, adutores, estações elevatórias e outras infra-estruturas estão finalmente a ser construídos ou melhorados e prevê-se que a partir de 2012 não haja descargas de esgoto em bruto para o estuário.
Actualmente esre ainda recebe águas residuais urbanas sem tratamento de cerca de meio milhão de pessoas. Para acabar com isto e melhorar o tratamento do esgoto drenado para o rio, 17 municípios da Grande Lisboa e os respectivos sistemas multimunicipais (Simtejo, Simarsul, Sanest) e municipal (Smas de Almada) estão a investir mais de €700 milhoes na reabilitação ou construção de infra-estruturas.
Estes investimentos incidem numa área onde vive cerca de um terço da população portuguesa, o que leva o administrador da Simtejo Carlos Martins a argumentar que "só aqui Portugal resolve 30% do potencial de poluição de águas residuais urbanas". Será bom para as estatísticas, já que apenas 70% da população tem tratamento de águas residuais e a meta é de 90%.
Quando as obras estiverem concluídas "vamos ter uma melhoria significativa da qualidade da água no Tejo.", garante Pedro Serra, presidente da holding Águas de Portugal (accionista maioritária destes sistemas).
Porém, o estuário estará longe de ficar 100% limpo, já que "poderão existir descargas de poluição pontuais nos dias de grandes chuvadas", amdmite Martins. É que nesses dias (estimam-se em 35 por ano) as novas condutas de construção entre a Baixa de Lisboa e a ETAR de Alcântara, por exemplo, não terão capacidade para escoar os caudais das águas pluviais e das residuais adequadamente. Claro que mesmo assim será um cenário longe do actual na zona do Terreiro do Paço, onde ai9nda desagua o esgoto em bruto de cerca de 100 mil pessoas.
As chuvas também serão um problema nos concelhos onde as ribeiras entram nas praias, como acontece na Costa do Estoril. E isto apesar de a Sanest já canalisar a quase totalidade das águas residuais de quatro municípios para a ETAR da Guia, em Cascais(que usa um emissário submarino para descarregar no Atlântico).
O atraso no cumprimento da directiva comunitária de águas residuaisurbanas, que tinha como meta o ano de 2000, já levou a vário9s puxões de orelhas de Bruxelas. Portugal é alvo de dois processos pelas descargas sem tratamento adequado no tejo: um pré-contencioso que envolve sete aglomerações da margem Sul; e um contecncioso que envolve três da margem Norte. Ambos deverão ser arquivados dadas as obras em curso.
A demora numa e noutra margem prende-se com o facto de os municípios accionistas terem tardado a aderir ao sitema multimunicipal (caso da Simarsul) ou a entrar com o dinheiro(caso da Simtejo), ou ainda por desentendimentos quanto ao projecto de obra (caso da Sanest).
Entretanto, ao estuário vai valendo a sua capacidade de regeneração, com entrada diária de 600 milhões de metros cúbicos de água por maré, o que lhe permite uma limpeza natural e a possibilidade de uma recuperação mais rápida que muitos outros rios nacionais ou europeus. Porém, "não é por cessarem as descargas que se verificam logo os efeitos", lembra Simone Pio, vice-presidente da Administração da Região Hidrográfica do Tejo. As lamas contaminadas não desaparecem de um dia para o outro apesar de " as análises feitas às comunidades bentónicas (minhocas e afins) que habitam os fundos já indicarem que a qualidade da água está a melhorar", diz Maria José Costa, coordenadora de uma equipa do Instituo Oceanográfico que estuda o Tejo.
E convém não esquecer que novas directivas comunitárias nos batem à porta. Portugal tem que assegurar, até 2015, o "bom estado ecológico e físico-químico" das suas águas. E ainda s´estamos no primeiro passo."
Carla Tomás
inExpresso
9 de Maio de 2009
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