"Restos de automóveis, pilhas de pneus, plásticos, borrachas,ruínas de mobiliário e electrodomésticos, lâ de vidro e até coberturas de amianto, tudo regado com cheiro de óleos, no meio de um extenso pinhal, e a cerca de 10 metros de duas casas habitadas. Os ingredientes para um incêndio, que pode ser devastador, estão todos reunidos numa antiga sucata que funcionou na localidade da Bêbeda (Sines) durante mais de quinze anos, com o conhecimento das entidades competentes, inclusive do dono legal dos terrenos, o Estado.
Foi este cenário que o DN encontrou, apesar de o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, ter garantido ontem que 63 por cento das 790 sucatas ilegais de veículos, identificadas em 2008, já foram erradicadas. O secretário de Estado assegurou ainda que até ao fim do ano " o País estará livre" destes depósitos ilegais.
O governante comparou esta acção ao que "aconteceu há uma década atrás, quando o País erradicou as lixeiras". Humberto Rosa considerou que "Portugal está a libertar-se do que eram depósitos descontrolados ilegais de sucata, que contaminavam os solos, àguas e atmosfera".
Este era o caso de sucata que Ismael Fernandes fez nascer no mato, vizinho próximo da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha e do complexo industrial de Sines. Um espaço que. até ao fim do ano passado, aceitava tudo - desde veículos em fim de vida até aos mais variados tipos de resíduos perigosos - mas que nunca conheceu o conceito de reciclagem. "Quando estava em actividade, havia movimentação e depósitos diários, desde particulares a empresas", garante Nuno Cruz, que adquiriu em 2007 uma escola que viria a tranformar a sua casa.
No local "chegaram a estar reunidas 60 garrafas de gás", evidencia Nuno Cruz, que lamenta já ter batido a várias portas tais como o Ministério do Ambiente, a Autoridade Nacional das Florestas, a GNR e a Câmara Municipal, sem resultados práticos até hoje. "Deviam estar preocupados em resolver a situação porque eles é que são culpados em termos legais. Falei com um responsável do ministério que me disse que podia ficar descansado porque toariam posse administrativa do terreno logo que possível, porque era um atentado o que aqui está... Até hoje estou à espera", conta indignado. Sem esperanças, admite já ter procedido ao desmantelamento de parte da sucata pelas próprias mãos, tendo gasto "cinco a seis mil euros".
O depósito foi desactivado no final do ano passado e removidos 30 Veículos em Fim de Vida (VFC) adiantou ao DN fonte do ministério do Ambiente, que reconhece que o local estava "referenciado" desde 2007. Em dois anos foram feitas duas notificações, a última em Janeiro, altura en que os antigos proprietários já haviam abandonado o país.
Uma parte do passivo ambiental continua a céu aberto, e outro tanto encontra-se enterrado e impregnado no solo. "Vi quele senhor entornar litros e litros de óleo para a terra", insiste Nuno Cruz, que aponta o dedo à inércia do Estado, que tem em curso uma campanha de sensibilização para a limpeza das matas e implementou em 2008 uma " Acção Nacional de Erradiação de Depósitos Ilegais de Veículos em Fim de Vida".
Também a Câmara Municipal de Sines considera que a tutela tem sido demasiado "lenta" na resolução da situação, que " há uns cinco anos parecia um mundo à parte, selvagem, onde só se entava com as autoridades".
No ano de 2005 foram reciclados 6600 veículos em fim de vida, número que subiu para 88 mil no corrente ano. "Trata-se de um aumento de 1200 por cento", indicou Humberto Rosa. Para o governante este aumento se deveu à simplificação do abate dos veículos, assim como a reforma da fiscalidade automóvel com critérios ambientais."
ANA MARQUES
in Diário de Notícias
20 de Maio de 2009
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