Anteontem fui ouvir Dr Rajendra Pachauri, o director do painel internacional sobre as alterações climáticas, numa conferência BES/Expresso sobre o futuro sustentável. Ele descreveu um cenário familiar mas preocupante, sobre o qual já escrevi há alguns meses (http://aeiou.expresso.pt/esta-calor-=f411836). A questão não é se as alterações climáticas estão a acontecer; a questão é até que ponto vão alterar a geografia física e humana do nosso planeta. Pachauri descreveu as consequências para Portugal: ondas de calor (como aquela de 2003), mais fogos, produção agrícola menos eficiente, mudanças nos padrões de turismo; só faltava mesmo uma praga de gafanhotos.
Mas isto não é inevitável; há acções que custam dinheiro (à volta de 3% do PIB, segundo Pachauri) mas que reduziriam as possibilidades de alterações climáticas dramáticas; acções que já começaram em Portugal e outros paises (por exemplo o investimento em energias renováveis aumentou 7 vezes na última década), mas que têm que ser feitas por todos, e não só na Europa - as emissões da China e dos Estados Unidos já são maiores do que as da Europa. Por isso a grande negociação que está em marcha, sob o controlo das Nações Unidas, para fixar objectivos mundiais de redução de gases com efeito de estufa. O momento decisivo chegará na reunião em Copenhaga no final deste ano.
Contudo, Pachauri tocou num outro assunto interessante; a mudança do estilo de vida. Sugeriu que comêssemos menos carne, porque a produção de carne tem muito mais efeito sobre o ambiente que outras fontes de proteína. Disse igualmente que esta sugestão (http://www.telegraph.co.uk/earth/earthnews/3351234/Eat-less-meat-to-combat-climate-change-warns-UN.html ) provocou uma forte reacção por parte do "Mayor" de Londres, Boris Johnson: http://www.telegraph.co.uk/comment/columnists/borisjohnson/3562013/Save-the-planet-by-cutting-down-on-meat-Thats-just-a-load-of-bull.html .
O argumento de Pachauri inspirou-se em Ghandi - "be the change you want". Compreendo este argumento. Por essa razão (entre outras) vou de bicicleta para o trabalho. Também por isso a equipa verde na Embaixada já criou uma horta no jardim do nosso escritório para cultivar legumes que já estamos a consumir (junto um fotografia que mostra um colega meu a oferecer um cesto de produtos caseiros ao Secretário de Estado do Ambiente, os quais foram cultivados aqui na Embaixada).
Estas decisões são tomadas livremente por nos; e o conselho de Pachauri (pessoa informada) é só isso, um conselho e não um comando. No entanto pergunto-me quando é legítimo para as autoridades públicas não só sugerir mas também impôr mudanças ao nosso estilo de vida. Onde é que fica a linha de marcação entre a liberdade e as responsibilidades ambientais?
domingo, 24 de maio de 2009
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