Nicholas Stern alertou para o risco das alterações climáticas, que colocam em causa a habitabilidade do planeta no final do século XXI. Inverter este cenário obriga a medidas urgentes, como a reserva de 1% do PIB de cada país para este fim.
Nicholas Stern, 62 anos, é peremptório. "As alterações climáticas são o assunto mais preocupante desde a Segunda Guerra Mundial", afirmou o ex-economista chefe e ex-vice presidente do Banco Mundial, na conferência Lisbon Innovation and Renewable, promovida pelas revistas VISÃO e EXAME. Este facto está a colocar em risco a própria habitabilidade da Terra já no final do seculo XXI, sendo previstas migrações de populações para o norte da Europa e conflitos globais, entre outras consequências.
O Mediterrâneo será uma das áreas mais afectadas, com destaque para Portugal, Espanha e Itália. "Portugal terá provavelmente um clima semelhante ao de Marrocos hoje", explica o especialista, que elaborou um relatório a pedido do ministro do Tesouro inglês, Gordon Brown, divulgado em 2006, que dá conta de dados reveladores e preocupantes sobre o aquecimento global. A resposta terá que ser urgente, garante, adiantando que só será possível minimizar estes efeitos através de uma acção global concertada. "Bastaria cada país disponibilizar 1% do seu PIB (Produto Interno Bruto) para esta questão", acredita Stern, acrescentando que 'os custos da inacção são muito superiores'.
A meta aceitável seria diminuir em 50% a emissão de gases, o que obrigaria a uma redução de cerca de 80% nos países mais ricos, que são os principais responsáveis pelas alterações climáticas. Contudo, isso não significa que os países menos desenvolvidos não sofram também os nefastos efeitos. A este respeito o economista defende que "os outros países (ricos) deverão financiar os efeitos negativos das alterações climáticas nos países pobres".
Para alcançar a baliza de 2050, Stern defende medidas que privilegiem uma boa relação custo-eficiência, alertando ainda para a questão da desflorestação, responsável por 15 a 20% das emissões. "Caso não se criem condições para novas florestas será muito pouco viável o cumprimento de outras metas", destaca o especialista.
A tecnologia desempenha também um papel fulcral para se prosseguir com estes objectivos. "É essencial um grande crescimento ao nível da pesquisa e inovação", diz, referindo-se à investigação relativa à eficiência energética. Por outro lado, a competição é também uma componente importante do processo. "Significa clareza, regras e preços'. É importante partilhar tecnologia e fornecer informação e produtos ecologicamente correctos entre países, para 'mehorarmos uns com os outros".
"Portugal é um país pequeno, ainda assim deve dar o exemplo", diz Nicholas Stern, aproveitando para elogiar o investimento português nesta área.
Expresso - Quarta-feira, 17 de Set de 2008
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