quarta-feira, 29 de abril de 2009

Portugal, pioneiro no futuro da Mobilidade Sustentável

Hoje estão reunidas as condições para se iniciar o desenvolvimento dos veículos eléctricos (VE) em escala.
O VE apresenta, já hoje, vantagens para o consumidor em termos de redução dos custos totais de propriedade face a um veículo com motor de combustão interna (VCI). Estas vantagens vão acentuar-se a curto prazo com os desenvolvimentos tecnológicos em curso e a produção em maior escala. De facto, o custo adicional da bateria é mais que compensado ao longo da vida útil do veículo por um custo de utilização cerca de quatro vezes menor que o do VCI.
Também em termos ambientais o veículo eléctrico se revela mais eficaz, dado que não produz directamente emissões de carbono e o motor não causa ruído. Mesmo considerando as emissões produzidas indirectamente por via da geração da electricidade, todo o processo é menos gerador de emissões no global, graças a um motor cerca de quatro vezes energeticamente mais eficiente e ao efeito de produção centralizada de energia.
Por outro lado, a inovação no domínio das baterias tem permitido reduzir o seu custo e aumentar a autonomia do VE, que se perspectiva passar de cerca de 160 km em 2010 para perto de 200 km em 2015 - suficiente para a utilização extra-urbana.
Reconhecendo estes desenvolvimentos, os fabricantes de automóveis estão a apostar em bloco no lançamento do VE já em 2010-11, incluindo os anteriormente mais cépticos ou defensores de outras soluções, como o híbrido.
O desenvolvimento tecnológico irá acelerar a adopção futura e até o aparecimento eventual de novos paradigmas de utilização do automóvel.
Quem pense que o VE se assemelha apenas a um mero 'carrinho de golfe', pode desenganar-se. Os VE são capazes de prestações notáveis, com acelerações de 0-100 km/h de cerca de 4 a 6 segundos para veículos 'normais' e velocidades de ponta de mais de 200 km/h em versões desportivas a lançar já em 2010/11.
Outro avanço que poderá contribuir para tornar o VE ainda mais atractivo é a introdução do sistema V2G (Vehicle-to-Grid), que tornará possível a cedência de energia armazenada na bateria à rede eléctrica.
O VE poderá ainda contribuir para a criação de um novo paradigma de utilização do transporte individual, uma vez que terá um enfoque primeiramente urbano com custos de utilização mais baixos, estimulando, por exemplo, esquemas de car-sharing, entre outros.
Para que o VE se torne realidade, é imperativa uma rede que permita o carregamento das baterias com uma cobertura geográfica relativamente suficiente. Neste domínio, além da solução de carregamento numa normal tomada de 220V (com uma duração de 6 a 8 h para uma carga completa - adequado para carregamento em casa durante a noite), existirão soluções de carga rápida. Esta tem a vantagem de permitir uma carga completa em 15-20 minutos, estando a ser estudadas soluções que permitem uma carga completa em 6 a 8 minutos, a ser lançadas de 2012 em diante.
Portugal tem-se colocado como pioneiro entre as principais iniciativas em curso - é agora necessário definir o modelo em que se pode operar.
A nível global, são ainda relativamente poucas as iniciativas relativas ao desenvolvimento de redes de carregamento urbanas. Berlim, Roma, Londres, Telavive, Copenhaga e alguns municípios do estado da Califórnia são escassos exemplos com redes-piloto em preparação.
Nestes municípios, tem-se assistido a parcerias tripartidas entre a autarquia, um comercializador eléctrico e um fabricante de automóveis.
Com a recente criação do Gabinete para a Mobilidade Eléctrica, Portugal tem-se colocado como pioneiro, liderando uma das primeiras iniciativas de âmbito nacional, ao ter-se comprometido a desenvolver uma rede de 320 postos de carregamento já para 2010, a complementar com mais postos, para perfazer 1300 a nível nacional em 2011.
É agora necessário que seja definido o modelo em que os operadores podem actuar, para que Portugal tenha um sistema de carregamento universal, competitivo e com preços aceitáveis para o consumidor.
À semelhança do que acontece noutros países, poderiam também estabelecer-se parcerias para projectos-piloto em grandes cidades como Lisboa e Porto, atraindo também fabricantes. Contribuir-se-ia desta forma para o desenvolvimento de uma mobilidade mais sustentável e para a adição de mais um elemento que coloca Portugal na rota da inovação.
Texto publicado na edição do Expresso de 10 de Abril de 2009

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