terça-feira, 28 de abril de 2009

Capturar e armazenar o CO2 para defender o ambiente

Os problemas climáticos estão relacionados com o consumo mundial de energia. Todas as previsões indicam que o consumo vai crescer e que a parcela de combustíveis fósseis como o carvão, o petróleo e o gás natural ainda vai representar 80% em 2030. Portanto, precisamos de ter êxito não apenas no desenvolvimento da energia renovável e na implementação de um programa abrangente de eficiência energética, mas também na criação de tecnologias para limitar radicalmente as emissões de gases com efeito de estufa dos combustíveis fósseis. Ambas as abordagens são possíveis, e Portugal e a Noruega podem mostrar o caminho tanto no que se refere ao desenvolvimento tecnológico como à redução de emissões. Se os países industrializados não demonstrarem vontade de realizar cortes significativos, perderemos a legitimidade necessária para contar com a aceitação e o compromisso dos países emergentes em reduzir as suas emissões.

A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que a procura global de energia crescerá em 45% até 2030 se não ajustarmos o rumo da política climática e energética. A AIE teme que a temperatura média global possa subir 6º C, algo que seria catastrófico. É preciso conseguir cortar as emissões globais de gases com efeito de estufa em até 85% antes de 2050.

Fontes de energia renovável e eficiência energética são as principais estratégias no caminho para uma sociedade de baixa emissão de carbono. Neste momento, em que uma profunda recessão está a ameaçar a sociedade global, precisamos de amenizar os efeitos negativos mediante investimentos que ao mesmo tempo combatam a ameaça do clima e promovam soluções energéticas para o futuro. A transição para fontes de energia renovável significa a possibilidade de economizar, inovar e criar sustentabilidade, novos postos de trabalho e um melhor ambiente. Sendo pioneiro no desenvolvimento de novas tecnologias, Portugal é um dos países que mais têm mostrado vontade e capacidade de realizar esta transição.

No entanto, outros investimentos tecnológicos também são necessários para estancar o aquecimento global. Não temos tempo de esperar até que novas fontes de energia substituam o carvão, o petróleo e o gás, já que ainda vão predominar por muitas décadas. Por isso é vital desenvolver tecnologias que possam reduzir as emissões de combustíveis fósseis.

A captura e o armazenamento de carbono (CAC) têm um potencial de reduzir as emissões de parques termoeléctricos a carvão e gás natural em 85 a 95%. É uma questão de capturar o CO2 e armazená-lo de forma segura em estruturas geológicas.

Desde 1996, a Noruega separa um milhão de toneladas de CO2 por ano do campo de gás natural Sleipner, reinjectando-o numa formação geológica a mil metros de profundidade abaixo do leito marinho do Mar do Norte. Diversos projectos de pesquisa financiados pela UE monitorizaram o depósito de CO2 perto de Sleipner, verificando que não houve qualquer vazamento.

Na costa Oeste da Noruega, o Governo faz grandes investimentos no centro tecnológico de Mongstad para atingir a meta de um parque completo onde 1,3 milhões de toneladas de CO2 por ano serão capturados de uma termoeléctrica.

Muitos projectos-piloto são necessários para tornar a captura e o armazenamento de CO2 uma tecnologia comercialmente viável. A ambição da UE de criar até 12 projectos-piloto de CAC é um claro sinal político sobre o seu potencial. Portugal é um dos países que mostraram interesse em estabelecer uma instalação deste tipo. A iniciativa contribuirá para atingir a meta dos países do G-8 de lançar 20 projectos de demonstração em tamanho real até 2010 e difundir a utilização comercial de CAC até 2020. A Noruega apoia essas metas e os esforços para atingi-las. Portanto, em Maio de 2009, o Governo norueguês organizará uma conferência de alto nível sobre CAC para promover a compreensão da tecnologia e a sua contribuição potencial na luta global pelo clima.

O problema do clima precisa de ser enfrentado de forma ofensiva. Investimentos em energia limpa devem ser uma área prioritária para recuperar o crescimento económico. Alguns países europeus, entre os quais Portugal, já mostraram as possibilidades existentes de uma abordagem proactiva e inovadora desse tipo.

A subsistência das gerações futuras é ameaçada pelas mudanças climáticas. Reunindo as nossas forças em prol dos avanços tecnológicos, podemos combater o problema.


Jonas Gahr Støre
(Ministro dos Negócios Estrangeiros da Noruega)

Texto publicado na edição do Expresso de 10 de Abril de 2009.

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