quinta-feira, 26 de março de 2009

Estuário do Tejo

“O estuário do Tejo tem um papel fundamental do ponto de vista ecológico e económico, uma vez que nele se concentra todo o material biológico arrastado ao longo do curso do rio, o que transforma o estuário numa zona extremamente rica em seres vivos e de importância fundamenta no povoamento da costa marítima.”

O preâmbulo do Decreto-Lei que criou esta Área Protegida (Decreto-Lei nº565/76 , 19 de Julho) alude, ainda, ao valor biológico do estuário e realça a sua importância como habitat de aves migradoras concluindo pela necessidade de “iniciar uma gestão racional do estuário" de modo a "não comprometer irreversivelmente as suas incontestáveis potencialidades biológicas.”
A Reserva Natural abrange extensa superfície de águas estuarinas, os mouchões da Póvoa, do Lombo do Tejo, das Garças e de Alhandra bem como o sapal de Pancas, este último sulcado por uma teia de calas e canais, atravessado pelo rio Sorraia e ladeado por pequenas áreas de montado e pinhal manso. O essencial do coberto vegetal é dominado pela mancha de sapal, traço de união entre as águas e a superfície emersa.
O estuário funciona como local de cria para peixes, caso do linguado e do robalo. Dentre as espécies sedentárias tipicamente estuarinas salientam-se o caboz-de-areia e o camarão-mouro. Para peixes migradores como a lampreia, a savelha e a enguia o Tejo é local de transição entre o meio marinho e o fluvial. Atendendo à sua localização, esta zona húmida é um área de eleição, em termos de invernada, para diversas espécies da avifauna. Nela se concentram, durante a estação fria, largos milhares de aves aquáticas de diversas espécies, nomeadamente o alfaiate. Bandos de anatídeos nidificam na lagoa do Mouchão do Lombo do Tejo.
Passeriformes fazem aqui escala nas suas migrações transarianas. Finalmente, não é demais salientar que Lisboa é a única capital europeia a possuir, diante de portas, uma reserva natural desta importância.
Com 14.192 ha, a Reserva Natural abrange uma extensa superfície de águas estuarinas, campos de vasas recortados por esteiros, mouchões, sapais, salinas e terrenos aluvionares agrícolas (lezírias). Não excedendo os 11m de altitude e a profundidade de 10 m, distribui-se pelos concelhos de Alcochete, Benavente e Vila Franca de Xira, a reserva insere-se na zona mais a montante do estuário do Tejo que, estendendo-se por uma área de cerca de 32 km2, é o maior da Europa Ocidental. Nas margens do estuário desenvolve-se o sapal, cuja comunidade florística vive sob a influência das águas trazidas pela maré. Região de grande produtividade a nível de poliquetas, moluscos e crustáceos, constitui autêntica maternidade para várias espécies de peixes. Mas é a avifauna aquática que atribui ao estuário do Tejo o estatuto da mais importante zona húmida do País e uma das mais importantes de Europa. Os efectivos de espécies invernantes chegam a atingir cerca de 120.000 indivíduos. As contagens regularmente efectuadas indicam que invernam nesta Área Protegida mais de 10.000 anatídeos e 50.000 limícolas, das quais se destaca o alfaiate Recurvirostra avosetta, com um número que pode ascender a 25% da população invernante na Europa. Muitas outras espécies atestam igualmente a riqueza biológica e o valor para a Conservação da Natureza desta região: o flamingo Phoenicopterus ruber, o ganso-bravo Anser anser, o pilrito-de-peito-preto Calidris alpina e o milherango Limosa limosa.
Estuário do Tejo é uma das maiores zonas húmidas da Europa e o maior santuário de vida selvagem do país.Desempenha um papel de grande relevo internacional na conservação de aves aquáticas que aqui encontram condições óptimas para invernada, nidificação ou como suporte às rotas migratórias.
A maré é um factor muito importante, dado que o volume médio de maré (600 x 106 m3) é significativo face ao volume de água abaixo do nível inferior da maré (1.900 x 106 m3). Este estuário corresponde a um estuário do tipo positivo, sendo também caracterizado como um estuário parcialmente estratificado.
O caudal médio anual do rio é de cerca de 400 m3 s-1, estando sujeito a uma larga variação mensal, de 1 a 2.200 m3 s-1, tendo sido em situação de cheias registados valores de 14.000 m3 s-1.
O regime de marés é do tipo semi-diurno, sendo os tempos de enchente mais longos do que os de vazante. A amplitude da maré, medida na margem norte, é crescente desde a foz até Alverca, onde chega a atingir o máximo de aproximadamente 4,8 m, decrescendo depois até se anular na região de Muge, a cerca de 80 Km da embocadura. A amplitude média de maré é de 2,6 m, apresentando como valor mínimo 1 m.
A intrusão salina faz-se sentir até Vila Franca de Xira, a 50 Km da barra. Em regime de cheia, a salinidade da água na zona Alcochete/Poço-do-Bispo é da ordem de 10 ‰, enquanto que em regime de estiagem, com os caudais dos rios reduzidos, os seus valores podem elevar-se para 25 ‰.A amplitude de maré observada e as características geomorfológicas da sua foz, a montante como a jusante, permitem incluir o estuário do Tejo na classe dos estuários mesotidais.
O clima da região onde se situa a Reserva Natural do Estuário do Tejo é do tipo mediterrânico, sendo Dezembro e Janeiro os meses mais frios e chuvosos e Julho e Agosto os mais quentes e secos. A temperatura média diária do ar situa-se entre 16,0 a 17,5ºC, a precipitação média anual entre os 600 a 700 mm e a insolação média anual entre 2.900 e as 3.000 horas. Os ventos predominantes vêm do quadrante Norte.
Os estuários, devido à amenidade do seu clima e abundância de recursos alimentares por um lado e, por outro, pelo facto de constituírem zonas charneira entre o interior e o mar, por eles circulando parte importante das trocas comerciais são, desde sempre, local privilegiado para a fixação das populações. A presença humana no estuário do Tejo está atestada desde o Paleolítico. Recentemente, junto ao acesso sul da ponte Vasco da Gama, foi encontrada uma importante jazida datada do Paleolítico Médio.
Os conhecidos "concheiros de Muge" remontam ao Mesolítico. Os romanos, primeiro, os árabes, depois, frequentaram as margens do Tejo. Depois da reconquista. a cidade de Lisboa assumiu-se como factor de consolidação da recém obtida independência e, mais tarde, foi do Tejo que partiram as naus que haveriam de dar outros mundos ao mundo. Actualmente, o estuário constitui o principal elemento aglutinador da Área Metropolitana de Lisboa o mesmo é dizer estar associado aos interesses directos de aproximadamente um quarto da população portuguesa.

A Lezíria

A Lezíria Sul é percorrida por uma rede de valas de água doce que drenam para o Tejo e Sorraia e os campos agrícolas por elas irrigados suportam culturas de regadio, sequeiro e arrozais. Na Reserva, extensas áreas de pastagem acolhem efectivos pecuários com destaque para o gado de lide - o touro bravo -, que juntamente com o cavalo lusitano são a imagem de marca da lezíria ribatejana.

As Salinas

As salinas estão localizadas no denominado sapal alto e foram, durante milénios, uma das principais fontes de rendimento da região e do país. Progressivamente desactivadas, devido à importação de sal proveniente do exterior e aos progressos registados nos meios de conservação de alimentos, são sobretudo as aves aquáticas quem mais se ressente da perda de parte do seu valor.

A Pesca

O sável Alosa alosa, atraiu inúmeros pescadores da zona de Vieira de Leiria e da região de Aveiro para o estuário, que também era abundante em numerosas outras espécies - proliferando inclusivé, os bancos de ostras . No entanto, os seus quantitativos foram dizimados, ou seriamente postos em causa, por poluições de origem urbana, industrial e agrícola. A actividade piscatória reduziu-se de forma drástica e, hoje, apenas algumas barcas se dedicam à captura sobretudo de linguado, robalo e enguia. O retorno de espécies quase desaparecidas, caso do charroco Halobatrachus didactylus, parece apontar para uma certa recuperação da riqueza piscatória.

in "http://portal.icnb.pt/"

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