O aumento súbito de pequenas partículas poluentes na atmosfera contribui para elevar o risco relativo de morte, revela o primeiro estudo realizado em Portugal para quantificar o efeito da poluição na mortalidade da população de um concelho.
O estudo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) insere-se no projecto RiskarLx e visou avaliar o efeito da poluição atmosférica por partículas na mortalidade dos residentes no concelho de Lisboa entre 2000 e 2004. Como variáveis, os investigadores contabilizaram a concentração média diária de PM10 (partículas em suspensão na atmosfera com dimensão inferior a 10 microns - unidade que corresponde à milésima parte do milímetro), entre outras. "O que se pretendeu compreender foi qual a influência da variação súbita das PM10 na mortalidade", explicou a investigadora do INSA Rita Nicolau, frisando que o "impacto é pequeno mas o efeito atinge muitas pessoas". Do estudo concluiu-se que o acréscimo de 10 microgramas por metro cúbico de PM10 eleva o risco relativo da mortalidade em 0,66 por cento, considerando todas as idades e sexos. Verificou-se também que o efeito nocivo da poluição atmosférica tende a agravar-se com a idade dos indivíduos. O risco relativo de morte aumenta 0,85 por cento nos indivíduos com mais de 65 anos e 1,22 por cento nos indivíduos com mais de 75 anos. Estes dados foram inferidos com base nos casos de mortalidade independentemente das suas causas, com exclusão dos acidentes. O estudo analisou mais especificamente o efeito do aumento das PM10 nas mortes causadas por doenças do aparelho circulatório e respiratório. Nas mortes causadas por doenças do aparelho circulatório, o estudo estima que o risco relativo suba para 1,15 por cento. Quanto à mortalidade associada a doenças do aparelho respiratório, o estudo só permitiu determinar um aumento de risco para os mais idosos, que foi de 2,24 por cento nos indivíduos com mais de 75 anos. O estudo visou a "poluição de fundo", aquela que é "permanente", e não directamente relacionada com tráfego, medida na estação dos Olivais. O Projecto RiskarLX é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e é coordenado pelo Departamento de Ciências Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Este estudo vai ser apresentado hoje no Instituto de Meteorologia a propósito do Dia Meteorológico Mundial, este ano dedicado ao tema "O tempo, o clima e o ar que respiramos"
In "Público" 23.03.2009
Sem comentários:
Enviar um comentário